Como é Estar Em Hipnose?
- Rafael Feltran
- 27 de set.
- 3 min de leitura
É comum associarmos a hipnose a uma imagem bastante específica: pessoas de olhos fechados, com o corpo extremamente relaxado, a expressão facial diferente do habitual, obedecendo a comandos de um hipnotista. No entanto, essa é uma visão bastante limitada e até equivocada do que realmente acontece durante um estado hipnótico.
A hipnose está muito mais presente em nosso cotidiano do que imaginamos, e ela pode acontecer em situações bem distintas das que costumamos ver na mídia ou em shows. Para entender melhor, podemos pensar na hipnose como um estado de concentração intensa e foco profundo, que nem sempre envolve relaxamento extremo ou olhos fechados.
É verdade que um estado relaxado pode facilitar uma concentração maior, mas não é a única forma de se entrar em hipnose. A hipnose, na verdade, é um fenômeno natural que ocorre quando nossa atenção fica tão focada em algo que outras coisas ao redor deixam de ser percebidas, e nossa mente opera de forma mais automática ou intuitiva.
Veja, por exemplo, algumas situações do dia a dia que ilustram bem esse "estado de hipnose":
• Enquanto descasca cebola, Joana se distrai e acaba cortando o dedo. Em busca de um band-aid, ela passa por seu filho pequeno que está brincando com um besouro. Sem pensar duas vezes, grita: “cuidado!”, e sai correndo para proteger a criança de uma possível picada. Minutos depois, já mais calma e com o filho no colo, continua a arrumar a mesa para o almoço. Neste momento, ela se esqueceu completamente do corte no dedo e só se lembra do machucado ao vê-lo.
Esse esquecimento temporário do corte demonstra como a mente, em um estado de foco intenso, pode direcionar a atenção para prioridades imediatas, deixando outras informações em segundo plano.
• Pedro acorda assustado, achando que perdeu o horário porque o despertador não tocou. Seu coração acelera, e ele imagina o chefe bravo por seu atraso. Em menos de cinco minutos, ele se veste rapidamente, pega a chave do carro e sai correndo para o escritório. Somente no meio do caminho percebe que o trânsito está estranho e, ao checar o celular, descobre que é domingo — e ele não trabalha nesse dia!
Aqui, Pedro estava tão concentrado na preocupação com o horário que entrou automaticamente em um estado de alerta, reagindo sem pensar conscientemente, como se estivesse hipnotizado pela ansiedade do momento.
Esses exemplos mostram que a hipnose acontece quando estamos profundamente focados, mesmo sem perceber, e nossa parte “não consciente” assume o controle de nossas ações. Essa atenção seletiva pode ser benéfica — como no caso de Joana, que protegeu o filho rapidamente — ou pode nos levar a agir no automático, como Pedro.
A ciência explica que esses estados de foco intenso ativam diferentes áreas do cérebro, incluindo aquelas ligadas à memória, ao processamento emocional e à tomada rápida de decisões. Por isso, podemos ficar tão absortos em algo que perdemos a noção do tempo ou deixamos de perceber outras coisas ao nosso redor.
Além disso, estados hipnóticos também são muito comuns durante atividades rotineiras ou repetitivas — como dirigir, ler um livro, assistir a um filme ou até mesmo caminhar — quando nossa mente fica em “piloto automático” e nos desconectamos do ambiente externo.
Em resumo, a hipnose é muito mais do que o clichê do “hipnotista comandando alguém”. Ela está presente em nosso cotidiano, guiando nossas ações inconscientes e nos ajudando a lidar com diferentes situações, seja por meio da concentração focada ou de um estado de relaxamento mental.
Entender essa dinâmica pode nos ajudar a aproveitar melhor esses momentos de foco e atenção, e até a desenvolver maior consciência sobre nossas reações automáticas.



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