O Que é Regressão no Processo de Hipnose Clínica?
- Rafael Feltran
- 30 de set.
- 2 min de leitura
Um dos temas mais polêmicos quando se fala em hipnose clínica é, sem dúvida, a tão temida regressão. Mas será que ela é realmente algo perigoso ou assustador? A resposta é: não. E calma, eu vou te explicar direitinho!
Antes de mais nada, é importante entender que nós regredimos o tempo todo, mesmo sem perceber. Por exemplo:
Pense agora no que você almoçou ontem.
Conseguiu lembrar? Então pronto. Isso já é uma forma de regressão — você voltou no tempo, acessando uma memória passada. Quando você relembra uma conversa, uma situação embaraçosa ou até mesmo um momento feliz, está fazendo uma espécie de "mini-regressão". Isso é natural do nosso funcionamento mental.
Na hipnose clínica, a regressão é utilizada de forma guiada e terapêutica. O objetivo é acessar momentos do passado que estão relacionados à origem de sintomas emocionais ou comportamentais atuais. Esses eventos podem ter ocorrido recentemente ou, mais comumente, durante a primeira infância — fase em que muitas das nossas percepções e emoções mais profundas são formadas.
E por que usamos a hipnose para isso?
Porque nosso consciente não tem acesso direto a essas memórias mais antigas ou dolorosas. Já o subconsciente, onde ficam armazenadas as memórias de longo prazo, pode ser acessado com mais facilidade durante o transe hipnótico. E é lá que, muitas vezes, encontramos as raízes dos padrões que nos incomodam hoje.
Vamos a um exemplo prático:
Imagine um adulto que sente uma constante solidão, mesmo estando cercado de pessoas.
Essa pessoa vive angustiada, sente-se deslocada, às vezes não consegue nem explicar o que sente. O que está por trás disso?
Durante o processo de regressão, podemos identificar que a origem dessa sensação surgiu quando ela era apenas um bebê, com cerca de seis meses de vida, e ficou chorando no berço sem ser acolhida por um longo período. A sensação de abandono e insegurança ficou registrada no subconsciente como algo perigoso e doloroso.
Mais tarde, aos cinco anos, ela pode ter ficado esperando a mãe na escola e ela se atrasou — outra experiência de abandono. A mente, sem perceber, vai conectando esses momentos semelhantes, reforçando o padrão emocional. Até que, na vida adulta, isso se manifesta como tristeza profunda, ansiedade, medo de rejeição ou sensação de vazio.
E o que fazemos com isso durante a terapia?
Ao identificar esse evento causador, trabalhamos a ressignificação da experiência. Isso significa que não apagamos o que aconteceu, mas ajudamos a mente a entender aquele momento com a perspectiva de hoje, com maturidade emocional e acolhimento.
A sua criança interior, que ficou presa naquele sentimento, finalmente é ouvida, acolhida e compreendida. Assim, o adulto deixa de carregar o peso daquela emoção, e os sintomas deixam de fazer sentido. Afinal, o papel deles era apenas alertar que havia algo interno precisando de atenção.
É comum ouvir:
"Ah, mas isso é bobagem, minha mãe não fez por mal."
Sim, como adultos conseguimos racionalizar. Mas para a criança que você foi, não era apenas um atraso ou um choro no berço — era o mundo inteiro desabando. E é esse olhar que precisamos trazer para o processo terapêutico.
Portanto, a regressão não é algo místico ou perigoso. É uma ferramenta poderosa de autoconhecimento e transformação emocional. Quando bem conduzida, ela promove alívio, compreensão e liberdade.



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